sábado, 1 de setembro de 2012

O trio padrão e a literatura fast food

Surpreendentemente, Fúria de Titãs 2 foi melhor que o primeiro filme, pelo menos para mim. Fico me perguntando o porquê de mudarem a atriz que faz a Rainha Andrômeda... Bem, de qualquer forma, achei o 2 mais interessante e mais bem feito que o 1. É claro que ser mais bem feito é justificável pelo tempo que se passou e as novas tecnologias que surgiram. Mas não é sobre isso que vim falar.


Atenção! A parte seguinte do texto pode ser considerada uma zona de spoilers!
Fúria de Titãs 2 tem o mesmo padrão de personagens principais que Piratas do Caribe, A lenda do tesouro perdido, Harry Potter e, obviamente, Percy Jackson e o ladrão de raios (obviamente porque PJ é uma cópia, esculpida em mármore carrara, para não dizer cuspida e escarrada, de HP). Que padrão misterioso é esse? É simples: o cara legal + o esquisito + a garota, que normalmente é bonitinha. Comparando Piratas do Caribe e Fúria de Titãs 2 a coincidência é ainda maior: as garotas dos dois filmes são atrizes de Orgulho e Preconceito, em que representam Lizzie e Jane Bennet, respectivamente. Normalmente, a garota é par romântico do cara legal, como também acontece em A lenda do tesouro perdido que, a propósito, é um ótimo filme. Esse padrão já foi tão intubado pelos leitores, telespectadores e etc, que já esperamos que a garota vá ficar com o cara legal. Prova disso é a revolta de alguns fãs de Harry Potter diante do gosto duvidoso da Hermione. É claro que o esperado foi que ela ficasse com o Harry, afinal é isso que manda a lógica literária global. No entanto, esse conceito está se transformando. 
Depois da reviravolta causada pela J. K. Rowling, ao juntar Hermione e Ronald, deixando para Harry um par romântico muito mais improvável, muitos escritores foram atrás e, na busca pela originalidade, acabaram indo pelo mesmo caminho, mantendo o mesmo trio padrão, mas modificando alguns detalhes. O cara legal e o esquisito ficaram mais próximos. Por mais que continuem diferentes, se aproximaram no que se refere aos graus de esquisitice, de beleza e de "ser legal". Nas sagas Crepúsculo e Jogos Vorazes, por exemplo. Na primeira, os rapazes são igualmente esquisitos. Na segunda,  os rapazes são igualmente legais. Quanto à beleza, as autoras têm se preocupado em atender ao público adolescente, o que é uma pena, já que a tendência é que os personagens fiquem cada vez mais esteticamente iguais. Isso é realmente notado quando colocamos em uma linha do tempo HP, Crepúsculo e Jogos Vorazes. Eu, que assisti Jogos Vorazes no avião, naquela minúscula telinha da British Airways, tive de prestar muita atenção para não confundir os atores. É claro que eu tinha alguns detalhes ao meu favor, uma vez que um dos rapazes estava no jogo e o outro, não; mas a semelhança é inegável.
É claro que a padronização é algo que faz parte da nossa sociedade capitalista. Desde Ford, que deixava seus clientes escolherem a cor de seus carros, desde que fosse preto, todo tem sido padronizado. Há muito tempo temos visto isso em relação aos padrões de beleza, mas é lastimável que isso tenha chegado aos livros. E a criatividade? A originalidade? O desafio mental? Livros de rápida leitura, aparentemente diferentes, mas todos iguais, e, o pior, tão nutritivos para a mente quanto um BigMac é para o nosso organismo.

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